terça-feira, 10 de agosto de 2010

Morte dum Caixeiro-Viajante - Arthur Miller

Willy não suporta o falhanço que teve na vida, os seus sonhos foram destruídos pela sua focalização errada nos caminhos para o sucesso. Contou que conhecer muitas pessoas e sobretudo estar perto das mais importantes, o faria subir na vida e queria ser o primeiro nela. Quem nasce em berço de ouro não precisa à partida de certas coisas que precisam os outros. Acontece que como Willy não nasceu em berço de ouro, teria de saber fazer bem o seu trabalho para que ele resultasse e não achar que porque sabe o nome e deu um aperto de mão a um ou dois senhores importantes já eles são seus amigos. Eles não sabem sequer o nome dele e Willy no fundo sabe de todo o seu falhanço ou não teria pensado em suicídio, mas quer iludir-se e conta a todos histórias em que ele acredita, porque as contou tantas vezes que se tornaram verdadeiras. Temos em contra partida o seu irmão Ben, que decidiu partir para a floresta sozinho, sem contar com apoios de ninguém e se tornou, pelo seu carácter persistente e capacidade de arriscar, um homem rico, à custa dos diamantes da selva. Willy não quer ver a realidade e isso impede-o de a mudar, quando as coisas não acontecem ele arranja uma desculpa lógica e fora de si mesmo para essa falha. A culpa nunca é de Willy verdadeiramente, mas sim de um qualquer motivo externo, um bom exemplo disso é o de pôr a culpa no professor de matemática para o facto de o seu filho não ter chegado à universidade, filho este que não estudou e julgava poder acabar o ano porque era um bom desportista e tinha o seu vizinho Bernard para poder copiar. Aqui mostra-se que o sermos bons em uma coisa jamais faz com que automaticamente esta permita não trabalhar para outra necessária, ou se luta pelo que se quer ou não se têm. Depois temos a mulher de Willy, Linda, que sabe da falsidade das fantasias do seu marido, mas ilude-se com a ideia de que ele assim é mais feliz e não o confronta, deixando que ele viva a irrealidade e ela seja apoiada por ela mesma, o que faz a realidade dele ser mais real. Um actor sempre precisa de público para acreditar que a sua representação não é mera loucura e aqui Linda é esse público que a imaginação de Willy necessita. No fim, é Biff, o filho que se quis iludir juntamente com o pai, que traz a verdade à vida da família: “Não passo de um falhado, pai! Não passo de um falhado! Quando acabará por compreender isto? Não se trata de rancor nem nada. É a verdade, senhor!”. Biff sobreviverá ao embate porque quis encarar a verdade e lutará pela vida nova, alcançou a liberdade de se saber dono de si. Willy suicida-se porque todo o mundo desabou rápido demais e o seu espírito comodista perdeu a capacidade de iniciar uma vida nova.

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