quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Frei Luís de Sousa - Almeida Garret

Maria é uma miúda curiosa que influenciada por Telmo lê muito e se mantêm atenta ao que se passa à sua volta, ela usa a sua intuição, deixando que os seus sextos sentidos, que vulgarmente não usamos, sejam um guia. Maria é uma personagem que confia plenamente no seu coração, os seus pressentimentos são certos e ela sabe que o serão, por se ouvir a si mesma. Madalena quer desvia-la destes “poderes” que a fazem ser uma criança que sabe demais, isto porque as crianças não foram feitas, segundo alguns, para se preocuparem e para saberem coisas que trazem sofrimento. Contam-se mentiras e inventam-se histórias, tentam criar-se distracções para que a verdade, que é mais cruel que a fantasia não chegue aos olhos dos mais pequenos. Só que Maria não gosta de ser enganada, ela é fascinante porque ama a verdade e quer que ela seja dita, para que o mundo avance. Cheia de sonhos, a miúda acredita que é possível mudar o mundo e acredita que para isso é preciso saber enfrentar as coisas como elas são. Só quando sabemos como é a realidade a poderemos modificar, caso contrário apenas mudamos algo que não existe e portanto a realidade continua a ser um poço de sofrimento. Mas isto não fica por aqui. João de Portugal é o D.Sebastião da peça e após anos de exílio volta e dá aquela família uma estabilidade que ela nunca teve porque sempre existia o medo deste regresso, pois é ele mesmo que vêm por fim a uma vida de sofrimento psicológico, uma vida a viver com um possível futuro aterrador. Ele arrepende-se por pensar ter vindo estragar uma felicidade, mas na verdade ela não existia por completo devido à sombra da possibilidade desse mesmo regresso. João de Portugal dá provas do seu grande amor renunciando à vingança da sua dor em prol da continuação de uma vida sem terrores para a família, mas o destino quer que a verdade seja a lei que manda e antes que ele interrompa os cataclismos, já eles aconteceram. A verdade é algo constante em Frei Luís de Sousa, como de resto o é em quase todos os livros, mas posta de maneira diferentes. Aqui tanto Maria, como Telmo, como Manuel de Sousa são defensores convictos de uma vida honrada e sempre defendem acima de tudo um caminho puro na sua vida, isto é, serem fies a si mesmos. Madalena, também é demasiado fiel para poder mentir, mas tenta ocultar a si mesma os factos, como vive atemorizada pela sua possibilidade de pecado e desgraça que isso seria para a filha, tenta fugir do que à sua volta acontece e quando não pode fugir, esconde-se dentro de si observando a sua tristeza sem olhar de frente e se afirmar perante a vida, decidida a mudar-se. Finalmente todos mudam de vida e Maria indigna-se com o facto de ela deixar de ser digna só porque houve enganos na vida daquelas pessoas, ela quer fazer ver mais uma vez a verdade, dizer-lhes que eles não foram infiéis consigo mesmos e isso é o mais importante.

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