terça-feira, 31 de maio de 2011

Terna é noite - F.Scott Fitzgerald

[Re-sublinho que os livros são apenas os pontos de partida para a minha divagação. Não procurem no livro o que vos conto dele, procurem-se.]


Existem pessoas que têm dentro delas uma tal verdade que ninguém lhes consegue passar pela vida, sem se lembrarem delas para sempre. Dick é esse herói em “Terna é a noite”. Um homem quase perfeito, que têm uma mulher quase perfeita… mas a sua vida não é, mesmo que pareça, perfeita. Esse homem adorado por todos, um dia passa o limiar dos seus próprios valores e tudo o que antes ele podia controlar, perde a orientação. Quando um homem passa por cima dos seus próprios valores, pouca coisa continua a importar. O que somos nós sem podermos confiar no que somos? Lançamento num abismo onde são sucessivas as asneiras, as desculpas, a culpas nos outros, a cegueira voluntária.

Existe uma espécie de corda suspensa onde as pessoas que se querem conhecer, caminham, o desequilíbrio está eminente, a qualquer momento o pé falha e vê-se então um lado negro, negro demais, para que as forças que nos trazem à superfície consigam esquecê-lo rapidamente. Alguns equilibram-se no momento exactamente antes do suicídio…outros acabam por cair e muitos anos passam até regressarem, se regressarem.

Mas, quando uma multidão nos continua olhar, erroneamente ou não, como antigo ou actual exemplo a seguir, aos poucos e poucos podemos convencer-nos de que é possível voltar a caminhar lá no alto. A confiança recupera-se, com ajuda. O orgulho destrói os caminhos. Se há alguém, que respeitamos e acredita incansavelmente em nós, é porque existem motivos para tal. Erra-se, mas a essência fica e um dia, com vontade e fugindo ao orgulho de querer fazer tudo sozinho, em silêncio, voltar-se-á a ser e por ser, fascina.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O carteiro de Pablo Neruda - Antonio Skármeta

[Aconselho o livro, especialmente a quem está pouco habituado a ler, porque lê-se rápido e a sua ligeireza e humor não deixam que fique muito tempo na cabeceira. Pode não ser uma obra de arte, mas é, sem dúvida, agradável. Aproveito ainda para deixar uma listinha que a carolina se deu ao trabalho de fazer… e assim lhe fazer promoção.
A história não é verídica, já para que ninguém ache que aqui pode ler uma biografia de Pablo Neruda. Leiam-lhe antes os poemas. ]


O carteiro de Plabo Neruda é um rapazinho que podia ser pescador se alguma vez tivesse entendido a magnitude do mar, mas ele só viu magnitude da sua morada no dia em Pablo lha mostrou. Primeiro foi a curiosidade de conhecer alguém “famoso”, depois, aos poucos e poucos, as vidas dos dois se tornam cúmplices. Neruda faz de conta que os seus favores ao jovem carteiro são um suplício, mas dentro disso, sabemos nós que ele não encontra em todo o lado o descaramento tão natural e desprovido de segundas intenções de Mário. Este rapazinho não acha que é um abuso pedir ao poeta que o ajude a ficar com a sua paixão, Beatriz, possuidora de uma mãe brava e sabida…este rapazinho, acha natural que, já que o culpado de haver paixão entre os dois foram os poemas de Pablo, o próprio Pablo que resolva agora o problema da mãe dela que não os quer juntos. E é esta inocência que Pablo leva por esse mundo fora até à França, ao Prémio Nobel, à guerra e à morte.

Mostram-se duas vidas que se cruzam, de homens honrados, com sucesso na vida, mas diferentes sucessos. Neruda chegou perto de muito mais gente, mas Mário foi feliz também, porque o guiaram os seus instintos e sagacidade de espírito, a sua falta de temor dos Deuses e Deusas.

É fundamental pensar neste à-vontade de vermos os grandes do mesmo tamanho que nós, de acharmos genuinamente que eles também ganham com a nossa presença, que os outros que nos parecem inalcançáveis têm tanta necessidade de nós como nós deles….porque a necessidade é de partilhar experiências e não de as mostrar apenas sem receber outras em troca. Mario não têm vergonha de não escrever tão bem as metáforas como Neruda. Mário escreve-as e mostra-lhas, sente necessidade de as criar e escreve-as como as sente. Foi assim que começaram os grandes poetas… por escrever aquilo que o seu dia-a-dia lhes trazia. Ninguém, de cabeça sã, escreveu uma grande obra a achar que ia ser uma grande obra, mas as grandes obras surgem e para que surjam é preciso não haver medo de arriscar e é também preciso ouvirmo-nos o que temos para dizer.

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